Artihorta

Qualquer cantinho é lugar de fazer horta


"Vai resplandecer"
"E o ar de novo vai ser natural"

O grupo Artihorta acredita que todo espaço é convidativo, mas depende para que. Por isso incentivamos a apropriação ativa e criativa de espaços de maneira integrada, discutindo qual a função do local e o que se pretende nele. Assim ressignificam-se as lógicas de ocupação e estimula-se a consciência de que somos responsáveis pelos espaços onde habitamos. Na mesma medida em que se desenvolve autonomia em relação ao micro, as visões de mundo ampliam-se.

Desejamos para uma árvore, que ela cresça, se fortaleça e dê frutos. Acompanhando desde a germinação da semente até a formação do tronco, e seu crescimento em direção à LUZ. Se à terra lhe faltam nutrientes, adubamos, se está ressecada molhamos. Estando muito dura, calejamos as mãos e aramos. Gratificante é preparar a terra, plantar, cuidar e colher! A gente mexe na terra, a terra mexe na gente.

A vida é encontro. Encontros que mexem e tiram a gente da estante. Num momento uma mãe que foi buscar seu filho na escola se depara com o manejo de um canteiro de ervas. Ela relembra os tempos em que vivia na roça, que tirava leite da vaca, andava de carroça. Daí ela diz: "não tem mais espaço pra plantá". O filho leva manjericão da escola para a mãe e colhe um mastruz para a vó. "Mãe, agora tem horta na escola!"

No Projeto ArtiHorta 2012, contemplado pelo Programa VAI (Valorização a Iniciativas Culturais, da Prefeitura de SP), nos dispusemos a fazer algo que nos é como inerente (cuidar da terra, cantar, trocar idéias, ver filme e ouvir música, pintar, brincar) num espaço onde antes não atuávamos (a escola). Isso e toda a experiência nos trouxe clarezas com relação as nossas práticas.

O projeto em 2013

Artihorta - Encontros Cheios de Lua consiste em um encontro a cada período cheio da lua. A ideia é ampliar as ações “culturambientais” inerentes à nossa existência (colhendo frutos e plantando experiências) no que já foi construído na Comunidade Cultural Quilombaque, na EMEF Jardim da Conquista, e em outros espaços de troca.

Cada encontro um tema, que se realiza nas vertentes artísticas, ambientais e\ou de consciência de hábitos (corpos em dança, seções de filmes, registro de imagens, canções, histórias, apresentações, cuidados com plantas - manejo das hortas e composteiras da comunidade cultural e da EMEF, e plantio de árvores frutíferas - busca por tecnologias limpas, atenção aos lixos, fazeção de banheiro seco e fogão a lenha, observação astronômica, encontro pais e frutos, cura, culinária alternativa, fogueira, passeio ciclístico).

Oito encontros compartilhando conhecimento! E entre os convidados, alunos do grupo formado na Praça da Conquista e da comunidade escolar, além de pessoas que se identificam.

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"Meus pés percorreram serras, montanhas, florestas e rios que geraram nossos antepassados.

Meus olhos percorreram olhos de parentes desamparados de sua história devido à morte ou ao silêncio de nossos velhos.

Apalpei a terra estéril e a árvore seca pela raiz em um poente que cobria a vida com um tom pálido.

Era a alma do mundo dizendo que um ciclo havia terminado e que naquele instante,
da soma das sabedorias das antigas tribos que o poente insistia em iluminar,
mesmo que palidamente,
uma nova tribo amanheceria com o sol.

Para isso, as raízes teriam que ser resgatadas,
a terra precisaria ser recuperada e revitalizada.

Foi assim que um menino buscou um guerreiro
que buscou um clã
que buscou um coração.

E todos se puseram a trabalhar em um empreendimento:
trazer a milenar sabedoria para as novas gerações,
trazer de volta a ciência sagrada enquanto essência,
para que seu aroma ampare e permeie como bálsamo
os corações e as mentes das futuras gerações."
        
                                           Kaká Werá Jecupé
                                       (A Terra dos Mil Povos)

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Espaços verdes na cidade são cada vez mais procurados pelos nossos olhos e olfatos. A presença de terra e plantas é percebida no corpo de todos os seres: ar que circula e participa mais ativamente das trocas com corpos que respiram, a terra transforma as energias pesadas e as suaviza, o ambiente torna-se fonte de alimento, e os seres que passam a fazer parte dessas trocas vão devolvendo-se à natureza, na medida em que devolvem a natureza à ela mesma.



Não importa quanto espaço você tenha. Se em algum lugarzinho bater sol, lá será ambiente de vida, que exalará por todo o espaço!